A Passaredo Linhas Aéreas, atualmente
VoePass, foi fundada em 1995, então como subsidiária da consistente e
tradicional empresa rodoviária que levava o mesmo nome e as mesmas
cores. Recordo-me bem dos Marcopolo Paradiso curtos com motor Volvo,
vistos em Salvador no final dos anos 1990, curiosamente com propaganda
do braço aéreo no painel traseiro.
A empresa surgiu como uma legítima regional, adquirindo três Embraer 120
Brasília (Advanced), então matriculados PP-PSA, PP-PSB e PP-PSC.
Experimentou um crescimento com a adição de um par de ATR 42 (PP-PSF e
PP-PSG) e, entre esses, sua primeira "Waterloo": um par de Airbus
A310-300 operados em parceria com um pool de agências de viagens,
matriculados PP-PSD e PP-PSE. Esses aviões pouco voaram, prejudicaram
seriamente a saúde financeira da empresa e, pior, em 2002, durante sua "fase verde", a Passaredo interrompeu suas
operações. José Luiz Felício (pai) optou por parar de voar para estancar
a sangria financeira. Um dos Brasílias (PP-PSC, atual FAB 2020) foi
devolvido à Embraer, e a empresa operava um único voo entre Ribeirão
Preto e Salvador, com escalas em Congonhas, São José dos Campos,
Governador Valadares e Vitória da Conquista — esta última, cidade cujo
transporte urbano também era operado pela Passaredo. Os PP-PSA e PP-PSB
ficaram estocados em Ribeirão Preto, aguardando dias melhores.
Em 2004, José Luiz Felício Filho, o Luizinho, decidiu que era
hora de retomar as operações. Assim, o PP-PSA voltou a voar, recomeçando a história da empresa,
na "fase azul". A
expansão veio com outros EMB-120 e, posteriormente, com a era dos jatos,
por meio dos ERJ 145 "fase amarela". Estes, no entanto, tornaram-se, quatro anos após
sua chegada, a segunda "Waterloo" da empresa. A solução foi trocar os
jatos pelos ATR 72, a
Passaredo encomendou 24 aeronaves ATR 72-600 para reformular suas
operações, das quais apenas quatro chegaram efetivamente, com uma
novidade: nomes de batismo! |

PR-PDA, "Bem-te-vi" em Salvador por Marcos
Caput. |
A
chegada do trio PR-PDA, PR-PDB e PR-PDC à empresa de Ribeirão Preto
marcou o início dos batismos de aeronaves com nomes de pássaros da fauna
brasileira — algo simpático, cultural e bastante apropriado, ainda mais
considerando que o nome Passaredo era incrível. Infelizmente,
esse nome foi posteriormente substituído por VoePass, quando a empresa
adquiriu a manauara MAP Linhas Aéreas.
Mas, vamos aos nomes?
*PR-PDA foi batizado de Bem-te-vi, pássaro muito
comum nas cidades brasileiras, conhecido por seu canto singular.
*PR-PDB recebeu o nome de Canário, outro pássaro
bastante representativo do país.
*PR-PDC era o Sabiá — que, aliás, tem até música em
sua homenagem.
*PR-PDD, que chegou fora da encomenda original, foi batizado de
Beija-flor, infelizmente perdido em um acidente na cidade
de Rondonópolis.
*PR-PDE foi batizado com o nome do engenheiro dos pássaros:
João-de-barro.
*PR-PDH ganhou o nome de um dos pássaros mais belos da fauna
local: Tucano (que, também nomeia uma aeronave muito
emblemática — e com justiça!).
*PR-PDI, o quarto da encomenda original (de 24 aeronaves, das
quais apenas 4 chegaram), foi chamado de Pica-pau.
*PR-PDJ foi batizado de Andorinha.
*PR-PDK, de Arara — outro símbolo evidente da fauna
brasileira.
Vale aqui quebrar a ordem das matrículas para citar um fato curioso:
durante 2014 e 2015, a Passaredo arrendou vários aviões anteriormente
operados pela TRIP, cujas sequências de letras nas matrículas eram
distintas. Esses ex-TRIP foram batizados da seguinte forma:
* PP-PTM: Curió
* PP-PTN: Jaçanã
* PP-PTO: Araponga
* PP-PTP: Tuiuiú (que, curiosamente, foi o logotipo da
Pantanal Linhas Aéreas no início dos anos 1990)
* PP-PTQ: Quero-quero
Voltando à sequência dos PR-PD*, cabe aqui uma curiosidade histórica:
décadas atrás, na sequência PP-PD*, quem vestiu essas letras? A lendária
Panair do Brasil, com aeronaves como Caravelles, Constellations e até
DC-8.
* O PR-PDL chegou posteriormente e herdou o nome Bem-te-vi,
em substituição ao PR-PDA, que havia sido devolvido.
* O PR-PDN chegou como substituto do PR-PDI e herdou o nome
Pica-pau.
* O PR-PDO substituiu o PR-PDB e herdou o nome Canário.
Com a aquisição da MAP, o ATR 72-500 PR-MPW, oriundo da empresa
manauara, foi pintado nas cores da VoePass (agora o nome oficial da
empresa) e recebeu o nome Andorinha. Já os ATR 42-500 da
MAP, operando sob a nova marca, foram batizados de:
* PR-PDP: Uirapuru
* PR-PDS: Beija-flor
Os batismos continuaram com a incorporação de novas aeronaves:
* PR-PDT: Tucano (nome anteriormente utilizado no PR-PDH)
* PR-PDW: Gaturamo-bandeira, com pintura especial
remetendo à “Passaredo Fase Verde” e homenagens a José Luiz Felício
(pai).
* PR-PDY: João-de-barro (nome anteriormente usado no
PR-PDE)
Como é público, a Passaredo enfrentou grandes dificuldades ao longo de
sua história, com diversas devoluções de aeronaves (como o grupo PR-PDA,
PDB, PDC, PDI, depois o grupo PDE, PDH, PDJ, PDK e seus respectivos
substitutos PDL, PDN, PDO). Em um momento simbólico, foi batizado de
Fênix o ATR 72-600 PR-PDX, e seu irmão PR-PDZ herdou o
nome Sabiá (originalmente usado no PR-PDC).
Com o fim da série PR-PD*, a VoePass adotou a sequência VP em suas novas
matrículas:
* PS-VPA: Rouxinol
* PS-VPB: Maritaca
* PS-VPE: Andorinha (nome já usado anteriormente pelo
PR-PDJ e PR-MPW)
Infelizmente, na manhã de 9 de agosto de 2024, o ATR 72-500 PS-VPB,
batizado de Maritaca — pássaro simpático e barulhento de nossa fauna —
decolou de Cascavel (PR) com 58 passageiros e 4 tripulantes, sob o
callsign Passaredo 2283. Durante o sequenciamento para aproximação em
Guarulhos, ao iniciar uma curva, o "Maritaca" entrou em parafuso chato,
perdeu o controle e caiu no quintal de uma casa, vitimando todos a
bordo. Esse acidente marcou o início de uma crise sem precedentes na
empresa, cujo ápice ocorreu em Março de 2025, quando a ANAC suspendeu o
C.O.A (Certificado de Operador Aéreo) da companhia. A VoePass luta agora
para voltar aos céus — mas, infelizmente, com chances cada vez mais
reduzidas de lograr êxito. O futuro revelará.
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