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Passaredo e seus pássaros Artigo de Alexandre Alves / 24.05.25

A Passaredo Linhas Aéreas, atualmente VoePass, foi fundada em 1995, então como subsidiária da consistente e tradicional empresa rodoviária que levava o mesmo nome e as mesmas cores. Recordo-me bem dos Marcopolo Paradiso curtos com motor Volvo, vistos em Salvador no final dos anos 1990, curiosamente com propaganda do braço aéreo no painel traseiro. A empresa surgiu como uma legítima regional, adquirindo três Embraer 120 Brasília (Advanced), então matriculados PP-PSA, PP-PSB e PP-PSC. Experimentou um crescimento com a adição de um par de ATR 42 (PP-PSF e PP-PSG) e, entre esses, sua primeira "Waterloo": um par de Airbus A310-300 operados em parceria com um pool de agências de viagens, matriculados PP-PSD e PP-PSE. Esses aviões pouco voaram, prejudicaram seriamente a saúde financeira da empresa e, pior, em 2002, durante sua "fase verde", a Passaredo interrompeu suas operações. José Luiz Felício (pai) optou por parar de voar para estancar a sangria financeira. Um dos Brasílias (PP-PSC, atual FAB 2020) foi devolvido à Embraer, e a empresa operava um único voo entre Ribeirão Preto e Salvador, com escalas em Congonhas, São José dos Campos, Governador Valadares e Vitória da Conquista — esta última, cidade cujo transporte urbano também era operado pela Passaredo. Os PP-PSA e PP-PSB ficaram estocados em Ribeirão Preto, aguardando dias melhores.

Em 2004, José Luiz Felício Filho, o Luizinho, decidiu que era hora de retomar as operações. Assim, o PP-PSA voltou a voar, recomeçando a história da empresa, na "fase azul". A expansão veio com outros EMB-120 e, posteriormente, com a era dos jatos, por meio dos ERJ 145 "fase amarela". Estes, no entanto, tornaram-se, quatro anos após sua chegada, a segunda "Waterloo" da empresa. A solução foi trocar os jatos pelos ATR 72, a Passaredo encomendou 24 aeronaves ATR 72-600 para reformular suas operações, das quais apenas quatro chegaram efetivamente, com uma novidade: nomes de batismo!


PR-PDA, "Bem-te-vi" em Salvador por Marcos Caput.

O ATR72-600 PR-PDA foi o primeiro avião da Passaredo a receber um nome de batismo, de um pássaro claro!

A chegada do trio PR-PDA, PR-PDB e PR-PDC à empresa de Ribeirão Preto marcou o início dos batismos de aeronaves com nomes de pássaros da fauna brasileira — algo simpático, cultural e bastante apropriado, ainda mais considerando que o nome Passaredo era incrível. Infelizmente, esse nome foi posteriormente substituído por VoePass, quando a empresa adquiriu a manauara MAP Linhas Aéreas.

Mas, vamos aos nomes?

*PR-PDA foi batizado de Bem-te-vi, pássaro muito comum nas cidades brasileiras, conhecido por seu canto singular.
*PR-PDB recebeu o nome de Canário, outro pássaro bastante representativo do país.
*PR-PDC era o Sabiá — que, aliás, tem até música em sua homenagem.
*PR-PDD, que chegou fora da encomenda original, foi batizado de Beija-flor, infelizmente perdido em um acidente na cidade de Rondonópolis.
*PR-PDE foi batizado com o nome do engenheiro dos pássaros: João-de-barro.
*PR-PDH ganhou o nome de um dos pássaros mais belos da fauna local: Tucano (que, também nomeia uma aeronave muito emblemática — e com justiça!).
*PR-PDI, o quarto da encomenda original (de 24 aeronaves, das quais apenas 4 chegaram), foi chamado de Pica-pau.
*PR-PDJ foi batizado de Andorinha.
*PR-PDK, de Arara — outro símbolo evidente da fauna brasileira.

Vale aqui quebrar a ordem das matrículas para citar um fato curioso: durante 2014 e 2015, a Passaredo arrendou vários aviões anteriormente operados pela TRIP, cujas sequências de letras nas matrículas eram distintas. Esses ex-TRIP foram batizados da seguinte forma:

* PP-PTM: Curió
* PP-PTN: Jaçanã
* PP-PTO: Araponga
* PP-PTP: Tuiuiú
(que, curiosamente, foi o logotipo da Pantanal Linhas Aéreas no início dos anos 1990)
* PP-PTQ: Quero-quero

Voltando à sequência dos PR-PD*, cabe aqui uma curiosidade histórica: décadas atrás, na sequência PP-PD*, quem vestiu essas letras? A lendária Panair do Brasil, com aeronaves como Caravelles, Constellations e até DC-8.

* O PR-PDL chegou posteriormente e herdou o nome Bem-te-vi, em substituição ao PR-PDA, que havia sido devolvido.
* O PR-PDN chegou como substituto do PR-PDI e herdou o nome Pica-pau.
* O PR-PDO substituiu o PR-PDB e herdou o nome Canário.

Com a aquisição da MAP, o ATR 72-500 PR-MPW, oriundo da empresa manauara, foi pintado nas cores da VoePass (agora o nome oficial da empresa) e recebeu o nome Andorinha. Já os ATR 42-500 da MAP, operando sob a nova marca, foram batizados de:

* PR-PDP: Uirapuru
* PR-PDS: Beija-flor


Os batismos continuaram com a incorporação de novas aeronaves:

* PR-PDT: Tucano (nome anteriormente utilizado no PR-PDH)
* PR-PDW: Gaturamo-bandeira, com pintura especial remetendo à “Passaredo Fase Verde” e homenagens a José Luiz Felício (pai).
* PR-PDY: João-de-barro (nome anteriormente usado no PR-PDE)

Como é público, a Passaredo enfrentou grandes dificuldades ao longo de sua história, com diversas devoluções de aeronaves (como o grupo PR-PDA, PDB, PDC, PDI, depois o grupo PDE, PDH, PDJ, PDK e seus respectivos substitutos PDL, PDN, PDO). Em um momento simbólico, foi batizado de Fênix o ATR 72-600 PR-PDX, e seu irmão PR-PDZ herdou o nome Sabiá (originalmente usado no PR-PDC).

Com o fim da série PR-PD*, a VoePass adotou a sequência VP em suas novas matrículas:

* PS-VPA: Rouxinol
* PS-VPB: Maritaca
* PS-VPE: Andorinha (nome já usado anteriormente pelo PR-PDJ e PR-MPW)

Infelizmente, na manhã de 9 de agosto de 2024, o ATR 72-500 PS-VPB, batizado de Maritaca — pássaro simpático e barulhento de nossa fauna — decolou de Cascavel (PR) com 58 passageiros e 4 tripulantes, sob o callsign Passaredo 2283. Durante o sequenciamento para aproximação em Guarulhos, ao iniciar uma curva, o "Maritaca" entrou em parafuso chato, perdeu o controle e caiu no quintal de uma casa, vitimando todos a bordo. Esse acidente marcou o início de uma crise sem precedentes na empresa, cujo ápice ocorreu em Março de 2025, quando a ANAC suspendeu o C.O.A (Certificado de Operador Aéreo) da companhia. A VoePass luta agora para voltar aos céus — mas, infelizmente, com chances cada vez mais reduzidas de lograr êxito. O futuro revelará.

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