David Neeleman, o "Brasicano" (brasileiro filho de americanos), prometeu a si mesmo durante sua missão mórmon na Paraíba, em sua juventude, que fundaria uma empresa no Brasil com o propósito de gerar empregos para o povo brasileiro. Em janeiro de 2008, esse projeto se concretizou: surgia uma nova linha aérea no Brasil. O modelo de negócio seguiu os passos da JetBlue americana (empresa que Neeleman fundou após o sucesso da WestJet no Canadá, também fundada por ele, depois de ter vendido a Morris Air para a SouthWest).

Na busca por executivos no Brasil, Neeleman encontrou Gianfranco Beting, um entusiasta da aviação com vasto conhecimento em marketing e comunicação, oriundo da TransBrasil. Beting propôs e lançou a campanha vocêescolhe.com.br, que buscou nomes para batizar a nova companhia. Nesse período, a BRA encerrou suas operações, tendo suas linhas absorvidas pela OceanAir (futura Avianca Brasil) e deixando diversos slots de Embraer 195 disponíveis na fila de produção do fabricante nacional. Com o nome Azul escolhido, a empresa trouxe um par de Embraer 190 para conduzir sua certificação (o PR-AZA e o PR-AZL), além de uma grande encomenda de Embraer 195 que começariam a chegar a partir de dezembro de 2008. O quadro de profissionais contava com executivos oriundos da VARIG e da VASP, incluindo o Comandante Álvaro Neto e mecânicos experientes, como Mamede, de Salvador (Ex-VASP). A Azul inovou com uniformes diferenciados, serviço de bordo com snacks e estreou em 15 de dezembro de 2008. O voo inaugural, realizado por um Embraer 190 (então um modelo inédito na aviação comercial brasileira), ligou Campinas a Salvador. O aeroporto de Viracopos, em Campinas, foi estabelecido como base da empresa, transformando o local em um hub descentralizado. Um trio de Embraer 195 (PR-AYA, PR-AYB e PR-AYC) foi entregue ainda em dezembro de 2008. A faixa decorativa dessas aeronaves, nas cores azul, laranja e verde, era uma sutil homenagem a Omar Fontana e ao trio de Boeing 767 da TransBrasil (PT-TAA/TAB/TAC).

A Azul passou a receber aviões mensalmente e expandir sua malha de rotas, inicialmente com conexões ponto a ponto e voos sem escalas. Conquistou o público com um padrão de atendimento guiado pelo conceito OPA — Observe, Perceba e Atenda —, mais uma marca de Beting na cultura organizacional. Em setembro de 2009, um Embraer 195 (PR-AYV) foi apresentado com a fuselagem totalmente pintada com a bandeira do Brasil, o que se tornaria uma tradição na empresa. Com o tempo, a Azul modificou seu perfil de voos, adotando rotas com múltiplas escalas, como a que ligava Confins – São Luís – Teresina – Fortaleza – Recife – Salvador – Confins. Enquanto expandia a frota de Embraer 190 e 195 (cujas poltronas ofereciam serviço de TV ao vivo, outro pioneirismo da empresa), a Azul revisou seu plano de negócios. Em julho de 2010, a empresa surpreendeu o mercado com o anúncio da compra de 20 ATR 72-600, com opção para mais 20 unidades. Antes da chegada dos ATR 72-600, a solução foi trazer ATR 72-202 com interior reformado para iniciar a operação imediatamente. Esse movimento indicava um choque direto com a TRIP, então a principal operadora de ATR no Brasil e detentora de vasto know-how na operação do turbo-hélice franco-italiano.

O ano de 2011 foi de intensos recebimentos de ATR 72-600 e Embraer 195, fazendo a empresa ultrapassar a barreira das 50 aeronaves. 2012 começou com mais recebimentos até que, em um domingo à noite, vazou a notícia de que a Azul compraria a TRIP. O fato foi negado ao longo do domingo, mas na manhã de 28 de maio (segunda-feira), um comunicado assinado por José Mário Caprioli confirmou a fusão. A "nova empresa" resultante teria David Neeleman com 66% das ações e Caprioli/Chieppe com 33%. O resultado da fusão foi uma companhia com 120 aeronaves, mais de 100 destinos no país e 14% do mercado. Durante 2013, a TRIP foi totalmente absorvida e extinta. Muitos pioneiros que construíram a TRIP e criaram sua forte cultura operacional do ATR foram dispensados. A empresa lançou uma nova marca, com a letra "U" do nome Azul em um tom de cor diferente, para "manter o legado" da TRIP. Um Embraer 195 (PR-AXV) recebeu uma pintura especial e foi feita a promessa de que alguns ATR 72-600 ficariam com as cores da TRIP por "toda a vida" (fato concretizado, já que o PR-TKJ, TKL e TKM continuam operando 11 anos depois). Em 2014, a Azul iniciou voos para os Estados Unidos com Airbus A330-200 e fez grandes encomendas de Airbus A320neo, Embraer E2 e até mesmo Airbus A350. A partir daí, o crescimento foi verticalizado. A Azul trouxe novas aeronaves, estabeleceu uma estreita parceria com a TAP Portugal (que foi adquirida por Neeleman na época) e atingiu um porte que a permitiu competir diretamente com a LATAM e a GOL. A empresa ajustou sua frota algumas vezes, encomendando o Airbus A321neo. Outra ação estratégica da Azul foi absorver praticamente todos os Airbus A320neo que a Avianca Brasil devolveu aos lessors.

A pandemia levou a empresa a estacionar grande parte de sua frota, sobretudo em Belo Horizonte, onde herdou acordos tributários e hangares da TRIP. No entanto, também em plena pandemia, a Azul surpreendeu o mercado com a compra da TWOFlex por 123 milhões de reais. A empresa se reinventou, ganhou prêmios ao longo de sua história e hoje é a companhia que mais destinos serve no Brasil. Olhando para trás, a empresa está prestes a completar 15 anos, marcando mais um acerto na vitoriosa trajetória do Brasicano. Em 2025, a Azul entrou com um pedido de Chapter 11 nos Estados Unidos, iniciando sua recuperação judicial. A ação prevê a retirada de pelo menos 35 aeronaves da frota, muitas das quais já estão paradas, principalmente os modelos Embraer 195 e ATR 72-600.